Evolução e a Iniciativa Humana
Os humanos têm uma característica; andam implacavelmente para a frente. Por vezes não sabemos para onde, mas mesmo assim avançamos. Afinal, em qualquer sistema vivo, o que não se move e muda e evolui estagna e morre.
O método da ciência é produzir uma conjectura acerca da realidade e depois pegar em ferramentas para a refutar. Durante esse processo seremos capazes de eliminar as acreções e periféricos e, esperançosamente, chegaremos a um núcleo firme e seguro. Mas, como sabemos, 90 por cento do conhecimento vai parar ao lixo daqui a alguns anos, e é assim que deve ser.
Agora, a única excepção a isso no que diz respeito à iniciativa humana é a religião, porque a religião diz: “Ah, nós acertámos na verdade toda logo à primeira”, e por isso nunca pode mudar, e porque nunca podemos refutar os aspectos periféricos das suas pressuposições, a religião tornou-se cada vez mais irrelevante para a evolução do pensamento humano.
Mas nem sempre foi assim, mesmo aqui no Ocidente. O exemplo mais óbvio e conhecido são os ensinamentos de Jesus. O Deus do Antigo Testamento, que era o Godus Operandus do tempo de Jesus, era uma entidade colérica, vingativa, malévola. Parecia divertir-se a matar primogénitos, humanos, cabras, gado. Era um “Deus invejoso”. Muito diferente das palavras de Cristo “Deus é amor”. Tal como o descreve o Dr. Ledwith: “Houve uma mudança bastante perceptível nos ensinamentos de Jesus em relação ao Antigo Testamento. Por exemplo, ele dizia que tinha sido dito aos homens do antigo, citando Moisés: Olho por olho, dente por dente, mas eu digo-vos, perdoai aos vossos inimigos.”
E, de facto, muitos dos ensinamentos de Jesus pareciam prefigurar o afastamento da figura de barba branca a cavalgar sobre as nuvens que infligia sentenças e cólera, em direcção a um Deus mais pessoal, ou o afastamento da ideia do céu como um local, em direcção a uma ideia de céu enquanto estado de espírito. E ele realçava sempre a importância do pensamento, superior até à acção que pode seguir o pensamento.
Mas algures no caminho para o agora, as religiões ocidentais bloquearam. Foram eliminados livros da Bíblia, e outros revistos. Os pontos de vista diferentes foram implacavelmente extirpados e à medida que a Igreja adquiria poder, todos os caminhos vinham de Roma.
E agora há centenas de estilhaços de fés, cada uma detentora da verdade derradeira.
Penso portanto que qualquer um disposto a fazer o caminho da iluminação será absolutamente impecável em tudo o que fizer. Será por medo da condenação? Não. Ou do castigo de Deus ou porque pequei e não tenho perdão? Não, não, não. As pessoas realmente iluminadas verão que cada acção tem uma reacção com a qual têm de lidar, e, se forem sábias, não farão coisas que as obrigarão a enfrentar e resolver e equilibrar com a sua alma mais tarde. É esse o verdadeiro critério. Portanto não podemos pecar contra Deus porque a presença divina está em todos nós, e estamos a cumprir os mandamentos divinos em tudo o que fazemos. Iremos descobrir rapidamente, devido à realidade acção-reacção, que há coisas que não nos fazem evoluir, e teremos de aprender isso mais cedo ou mais tarde. Mas podemos pecar contra Deus? Isso é impossível.
– Miceal Ledwith
Evolução e a Iniciativa Pessoal
Dado o que sabemos acerca das formas de ver o mundo e como restringem a nossa visão da realidade, como é que nos afectam os pontos de vista prevalentes transmitidos pelos grandes ensinamentos?
Segundo o Dr. Ledwith, o maior obstáculo à nossa evolução é a forma como a nossa cultura frequentemente vê Deus – como um Deus sentado algures “a registar no portátil se nos portámos segundo os seus desígnios ou se o ofendemos, uma ideia completamente ultrajante. Como é que haveríamos de ofender Deus? Por que é que teria tanto significado para ele? Acima de tudo, como é que teria tanto significado para ele considerar a situação de tal gravidade que nos condenasse a uma eternidade de sofrimento? São ideias bizarras”.
E são ideias bizarras: que neste vasto universo, onde há mais galáxias do que grãos de areia em todos os oceanos, que nessa vastidão, um grupo de pessoas – bem, homens, de facto – de um pequeno planeta tivesse o privilégio exclusivo das Portas do Paraíso. E qualquer outro ser vivo do universo irá passar a eternidade a sofrer no inferno. E difícil imaginar uma ideia mais bizarra. E se é nesse Deus que acredita, então tem de indagar: como é que isso afecta a nossa visão do mundo?
O certo e o errado baseiam-se num grupo de regras. Estas regras evoluíram de ensinamentos, valores culturais e conveniências políticas. Provêm de fora, das nossas crenças culturais. A evolução vem de dentro. Ver as decisões da perspectiva da evolução pressupõe que, no âmago, cada pessoa é basicamente divina. Isto é muito diferente da ideia de que nascemos pecadores ou seres amaldiçoados a quem tem de ser dito exactamente o que fazer porque somos repugnantes por natureza. Assim, para manter estes animais humanos na linha, há a ameaça de uma eternidade de sofrimento.
Está na altura de passar à frente de um sistema de valores baseado no julgamento do certo e do errado para um de evolução pessoal. Devemos aprender acerca das leis elevadas do universo: “Não julgues e não serás julgado; não condenes e não serás condenado; perdoa e serás perdoado” (Lucas 6, 37). A atitude interior irá reflectir-se na realidade exterior.
Este conceito de evolução baseado na sabedoria crescente está muito mais perto das quatro nobres verdades de Buda: “A origem do sofrimento é a ligação às coisas passageiras e a ignorância daí proveniente.” O sofrimento não é uma consequência de desagradar a um Deus irado e ciumento; é simplesmente o resultado da ignorância – não saber.
E isso não é um castigo, mas uma sugestão, uma cotovelada, um sinal de trânsito no Caminho.
Os humanos têm uma característica; andam implacavelmente para a frente. Por vezes não sabemos para onde, mas mesmo assim avançamos. Afinal, em qualquer sistema vivo, o que não se move e muda e evolui estagna e morre.
O método da ciência é produzir uma conjectura acerca da realidade e depois pegar em ferramentas para a refutar. Durante esse processo seremos capazes de eliminar as acreções e periféricos e, esperançosamente, chegaremos a um núcleo firme e seguro. Mas, como sabemos, 90 por cento do conhecimento vai parar ao lixo daqui a alguns anos, e é assim que deve ser.
Agora, a única excepção a isso no que diz respeito à iniciativa humana é a religião, porque a religião diz: “Ah, nós acertámos na verdade toda logo à primeira”, e por isso nunca pode mudar, e porque nunca podemos refutar os aspectos periféricos das suas pressuposições, a religião tornou-se cada vez mais irrelevante para a evolução do pensamento humano.
Mas nem sempre foi assim, mesmo aqui no Ocidente. O exemplo mais óbvio e conhecido são os ensinamentos de Jesus. O Deus do Antigo Testamento, que era o Godus Operandus do tempo de Jesus, era uma entidade colérica, vingativa, malévola. Parecia divertir-se a matar primogénitos, humanos, cabras, gado. Era um “Deus invejoso”. Muito diferente das palavras de Cristo “Deus é amor”. Tal como o descreve o Dr. Ledwith: “Houve uma mudança bastante perceptível nos ensinamentos de Jesus em relação ao Antigo Testamento. Por exemplo, ele dizia que tinha sido dito aos homens do antigo, citando Moisés: Olho por olho, dente por dente, mas eu digo-vos, perdoai aos vossos inimigos.”
E, de facto, muitos dos ensinamentos de Jesus pareciam prefigurar o afastamento da figura de barba branca a cavalgar sobre as nuvens que infligia sentenças e cólera, em direcção a um Deus mais pessoal, ou o afastamento da ideia do céu como um local, em direcção a uma ideia de céu enquanto estado de espírito. E ele realçava sempre a importância do pensamento, superior até à acção que pode seguir o pensamento.
Mas algures no caminho para o agora, as religiões ocidentais bloquearam. Foram eliminados livros da Bíblia, e outros revistos. Os pontos de vista diferentes foram implacavelmente extirpados e à medida que a Igreja adquiria poder, todos os caminhos vinham de Roma.
E agora há centenas de estilhaços de fés, cada uma detentora da verdade derradeira.
Penso portanto que qualquer um disposto a fazer o caminho da iluminação será absolutamente impecável em tudo o que fizer. Será por medo da condenação? Não. Ou do castigo de Deus ou porque pequei e não tenho perdão? Não, não, não. As pessoas realmente iluminadas verão que cada acção tem uma reacção com a qual têm de lidar, e, se forem sábias, não farão coisas que as obrigarão a enfrentar e resolver e equilibrar com a sua alma mais tarde. É esse o verdadeiro critério. Portanto não podemos pecar contra Deus porque a presença divina está em todos nós, e estamos a cumprir os mandamentos divinos em tudo o que fazemos. Iremos descobrir rapidamente, devido à realidade acção-reacção, que há coisas que não nos fazem evoluir, e teremos de aprender isso mais cedo ou mais tarde. Mas podemos pecar contra Deus? Isso é impossível.
– Miceal Ledwith
Evolução e a Iniciativa Pessoal
Dado o que sabemos acerca das formas de ver o mundo e como restringem a nossa visão da realidade, como é que nos afectam os pontos de vista prevalentes transmitidos pelos grandes ensinamentos?
Segundo o Dr. Ledwith, o maior obstáculo à nossa evolução é a forma como a nossa cultura frequentemente vê Deus – como um Deus sentado algures “a registar no portátil se nos portámos segundo os seus desígnios ou se o ofendemos, uma ideia completamente ultrajante. Como é que haveríamos de ofender Deus? Por que é que teria tanto significado para ele? Acima de tudo, como é que teria tanto significado para ele considerar a situação de tal gravidade que nos condenasse a uma eternidade de sofrimento? São ideias bizarras”.
E são ideias bizarras: que neste vasto universo, onde há mais galáxias do que grãos de areia em todos os oceanos, que nessa vastidão, um grupo de pessoas – bem, homens, de facto – de um pequeno planeta tivesse o privilégio exclusivo das Portas do Paraíso. E qualquer outro ser vivo do universo irá passar a eternidade a sofrer no inferno. E difícil imaginar uma ideia mais bizarra. E se é nesse Deus que acredita, então tem de indagar: como é que isso afecta a nossa visão do mundo?
O certo e o errado baseiam-se num grupo de regras. Estas regras evoluíram de ensinamentos, valores culturais e conveniências políticas. Provêm de fora, das nossas crenças culturais. A evolução vem de dentro. Ver as decisões da perspectiva da evolução pressupõe que, no âmago, cada pessoa é basicamente divina. Isto é muito diferente da ideia de que nascemos pecadores ou seres amaldiçoados a quem tem de ser dito exactamente o que fazer porque somos repugnantes por natureza. Assim, para manter estes animais humanos na linha, há a ameaça de uma eternidade de sofrimento.
Está na altura de passar à frente de um sistema de valores baseado no julgamento do certo e do errado para um de evolução pessoal. Devemos aprender acerca das leis elevadas do universo: “Não julgues e não serás julgado; não condenes e não serás condenado; perdoa e serás perdoado” (Lucas 6, 37). A atitude interior irá reflectir-se na realidade exterior.
Este conceito de evolução baseado na sabedoria crescente está muito mais perto das quatro nobres verdades de Buda: “A origem do sofrimento é a ligação às coisas passageiras e a ignorância daí proveniente.” O sofrimento não é uma consequência de desagradar a um Deus irado e ciumento; é simplesmente o resultado da ignorância – não saber.
E isso não é um castigo, mas uma sugestão, uma cotovelada, um sinal de trânsito no Caminho.
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