Tema

Se analisarmos o mundo armados de mente aberta e olhar crítico e se fizermos algumas pesquisas é fácil apercebermo-nos que há muita "coisa" curiosa, difícil de explicar no actual paradigma da ciência.
Investigamos áreas díspares, desde a história antiga à física moderna, passando pela psiquiatria e filosofia.
Comecemos pela percepção. Será que vemos aquilo que esperamos ver? Como fazem os animais para prever catástrofes de modo a protegerem-se? Será que percepcionam algo para além dos nossos sentidos? Ou será que os nossos sentidos também o percepcionam mas nós não tomamos consciência por não estarmos preparados para tal? Os nossos sentidos fazem chegar ao cérebro o estrondoso número de 400 mil milhões de bits por segundo, mas apenas 2 mil chegam ao nosso consciente. O que acontece a tudo o resto? O nosso cérebro trabalha continuamente a tentar criar uma história do mundo para nós, livrando-se de imensa informação "supérflua". Esta selecção baseia-se nas nossas vivências, memórias e emoções. Sim, no fundo vemos aquilo que esperamos ver.
Religião. Fenómeno profundamente controverso. Estará a ciência em conflito com a religião? Ambas são duas abordagens à verdade, são as duas faces da mesma moeda. Se a ciência e o espírito investigam a natureza da realidade ilimitada – e obviamente quanto mais ilimitada é, mais perto da realidade – irão certamente cruzar os seus caminhos. Terá a religião de reformular todos os seus princípios de modo a acompanhar o estrondoso avanço da ciência? Sobreviverá a religião a esta reforma?
Cérebro. Pura biologia e química? É engraçado pensar o quanto o Homem investe na ciência, na tecnologia e o pouco que investe no seu próprio estudo, no estudo da mente humana. O estudo do cérebro é uma área enormemente fascinante, muito divertida de explorar. Se calhar quando compreendermos quase na plenitude o funcionamento do nosso cérebro talvez possamos aplicar esse conhecimento à construção de computadores capazes de fazerem escolhas autonomamente, dotados de sentimentos e emoções, capazes de sonhar e ter uma conversa normal, talvez um dia.
E até onde vai a Teoria Quântica? O que a teoria quântica revelou é tão intrigante que soa mais a ficção científica: as partículas podem estar em dois ou mais sítios ao mesmo tempo. O mesmo “objecto” pode ser uma partícula, localizável num local, ou uma onda, distribuída pelo espaço e pelo tempo.
Einstein disse que nada pode viajar mais depressa do que a velocidade da luz, mas a física quântica demonstrou que partículas subatómicas parecem comunicar instantaneamente sobre qualquer extensão de espaço.
Medicinas alternativas estão "na moda" e algumas já deram provas por milénios, falam-nos em "energias". Surgem histórias de paranormal mesmo vindas da comunidade científica, e muitas delas referem-se também a "energias". Pela teoria quântica apercebemo-nos que quanto mais de perto analisamos a matéria menos material se torna o mundo, no fundo passa a ser constituído por pacotes de energia e informação.
Há metafísica bastante em não pensar em nada, escreveu Caeiro. Nós estamos dispostos a pensar. Estes temas sempre nos despertaram a atenção porém nunca foram explorados no nosso percurso escolar, ou se o foram, não ficámos satisfeitos. Achamos que são importantes na nossa formação pessoal e cívica bem como da população em geral.
Não é difícil fazer grandes questões, mas quando tentamos responder a alguma surgem-nos muitas mais. Talvez encontremos um fio condutor que nos ilumine.
Temos aprendido a não confiar muito no que nos dizem, afinal aquilo que é tomado como verdadeiro muda drasticamente em questão de décadas. Também não descuro nenhuma peça do puzzle pelo simples facto de não encaixar nas que já estão montadas. Gostamos de consultar o nosso eu elevado quanto à validade das observações.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Inteligência Artificial


“O conceito de Inteligência Artificial relaciona-se com os termos sonho e tecnologia”
No nosso dia-a-dia, ouvimos falar da Inteligência Artificial, mas saberemos nós o que isso significa? Em que medida poderá alterar a nossa forma de vida? Que aplicações práticas tem?
Bem, a Inteligência Artificial é constituída por uma parte científica e por uma parte ligada á engenharia. Enquanto ciência a inteligência artificial procura conhecer/ estudar os fenómenos cognitivos do próprio Homem, compreender no fundo a dinâmica da inteligência. Conhecendo então estes mecanismos de funcionamento da inteligência há a construção de instrumentos capazes de pensar autonomamente de modo a apoiar a inteligência humana.
O objectivo final da Inteligência Artificial passa então pela construção de máquinas inteligentes que pressupõe a existência de estruturas simbólicas (representação), a capacidade de elas poderem raciocinar (procura) e a existência de conhecimentos (matéria prima).
No entanto, a Inteligência Artificial enquanto ciência continua rodeada de uma certa bruma, no sentido em que o homem ainda não possui uma definição suficientemente satisfatória de inteligência e para se compreenderem os processos da inteligência artificial e da representação do conhecimento terão de se dominar os conceitos de inteligência humana e conhecimento.
De uma forma geral, a Inteligência Artificial pressupõe que a máquina possua a capacidade de raciocinar utilizando conceitos complexos, e de perceber o seu meio envolvente.
O desenvolvimento da Inteligência Artificial caminha lado a lado com o desenvolvimento dos computadores na medida em que buscam a aproximação dos conceitos “máquina” e “inteligência” que outrora estavam distantes, uma vez que o termo “inteligência” era exclusivo ao Homem.
Como aplicações práticas temos os programas de jogo de xadrez, programas com a capacidade de fazer escolhas hipotéticas, resolver problemas gerais, tomar decisões e raciocinar em interacção com uma base de dados. Uma outra área em que os esforços se têm redobrado nos últimos anos é a da aprendizagem computacional, a possibilidade de os computadores aprenderem com os erros e de irem actualizando a sua própria informação agindo sobre a mesma. Coloca-se ainda como desafio a criação de programas computacionais reconheçam e reproduzam a língua natural.

Será que algum dia poderemos ter uma conversa com um robô como se de outro humano se tratasse? Será que alguma vez serão conscientes e então poderão sonhar? Há quem defenda que as emoções e a consciência resultam de se atingir um determinado grau de inteligência. Actualmente pensa-se que os computadores sejam mais inteligentes do que uma minhoca e há quem defenda que aumentando consideravelmente a sua complexidade, provavelmente no tempo de um século se tornarão tão inteligentes como um humano.
Os computadores já batem os seres humanos na velocidade de cálculo. Onde eles apresentam enormes deficiências é na criatividade. Um dos pais dos computadores, um inglês chamado Alan Turing, estabeleceu que, no dia em que conseguirmos manter com um computador uma conversa exactamente igual à que teríamos com qualquer outro ser humano, então é porque o computador pensa, é porque o computador tem uma inteligência ao nosso nível.
Muitos cientistas acreditam que o universo está estruturado segundo equações matemáticas e que essas equações, por mais complexas que pareçam, são todas elas resolúveis. Se não se consegue resolver uma equação, isso não se deve ao facto de ela ser irresolúvel, mas às limitações do intelecto humano em resolvê-la. Um dos grandes problemas no desenvolvimento da inteligência dos computadores prende-se no paradoxos referenciais. Temos como exemplo a frase “Eu só digo mentiras”. Se é verdade que eu só digo mentiras, então, tendo dito uma verdade, eu não digo só mentiras. Se a frase é verdadeira, ela própria contém uma contradição dentro de si.
Durante muito tempo, pensou-se que este era um mero problema semântico, resultante das limitações da língua humana. Mas, quando este enunciado foi transposto para uma formulação matemática, a contradição manteve-se. Os matemáticos passaram muito tempo a tentar resolver o problema, sempre na convicção de que ele era resolúvel. Essa ilusão foi desfeita em 1931 por um matemático chamado Kurt Gódel, que formulou dois teoremas, chamados da Incompletude. Os teoremas da Incompletude são considerados um dos maiores feitos intelectuais do século XX. Gódel provou que não existe nenhum procedimento geral que demonstre a coerência da matemática. Há afirmações que são verdadeiras, mas não são demonstráveis dentro do sistema. Esta descoberta teve profundas consequências, ao revelar as limitações da matemática, expondo assim uma subtileza desconhecida na arquitectura do universo.
Os teoremas de Gõdel sugerem que, por mais sofisticados que sejam, os computadores vão sempre enfrentar limitações. Apesar de não conseguir mostrar a coerência de um sistema matemático, o ser humano consegue perceber que muitas afirmações dentro do sistema são verdadeiras. Mas o computador, colocado perante tal contradição irresolúvel, bloqueará.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Fraudes do Paranormal 3


O Espiritismo Moderno
Os vivos só começaram a relacionar-se com os mortos quando duas meninas asseguraram que falavam com eles através de pancadas.
Aconteceu em 31 de Março de 1848, em Hydesville, uma pequena aldeia perto da cidade de Rochester, no Norte do estado de Nova Iorque.
O fenómeno. Na quinta isolada da família Fox, ouviam-se misteriosas pancadas provenientes do quarto onde dormiam o casal e as suas duas filhas menores, Katie (11 anos) e Maggie (nove). O som surgia em resposta a perguntas colocadas pelas meninas e pela mãe. Nessa noite, esta perguntou: "És um espírito?" Ouviram-se três pancadas nítidas e secas, que interpretaram como sendo um "sim": acabava de nascer a comunicação com os mortos. O espírito afirmou chamar-se Charles Brian Rosma; fora em vida vendedor ambulante e pai de cinco filhos. Aparentemente, fora assassinado por um vizinho malvado e enterrado na arrecadação da casa.
A fraude. A notícia espalhou-se rapidamente. A família Fox emigrou para Rochester, onde vivia uma irmã mais velha, Leah, de 35 anos. O espírito de Brian acompanhou-os. Dali, as irmãs Maggie e Katie, sabiamente dirigidas por Leah, iniciaram uma digressão triunfal por todo o país. Por onde passavam, surgiam novos médiums.
A explicação. É esta a origem do espiritismo moderno e assinala o começo das denodadas tentativas para estudar cientificamente os fenómenos paranormais. O absurdo da situação é que se tratou de uma fraude admitida. As meninas queriam apenas assustar a mãe, mas a brincadeira ultrapassou os seus planos. Foi a irmã, Leah, que as obrigou, ao aperceber-se da possibilidade de negócio, a prosseguir com a farsa. Foi o que declarou Margaret Fox numa entrevista publicada pelo New York Herald em 1888: "Vou contar-vos o espiritismo desde a sua verdadeira fundação. Quando isto começou, Katie e eu éramos crianças. Essa velha que é a nossa irmã servia-se de nós nas exibições e as receitas eram para ela." E terminou dizendo: "O espiritismo é, do princípio ao fim, o maior embuste do século." Na noite de 21 de Outubro do mesmo ano, na Academia de Música de Nova Iorque, perante centenas de testemunhas e repórteres de todos os jornais da cidade, Margaret reproduziu as pancadas dos espíritos... ao fazer estalar o dedo grande do pé! As mensagens das almas penadas não eram mais do que estalidos de ossos. Ofendidos, os espíritas lançaram uma campanha contra elas e só se detiveram quando elas se retractaram.

A Cirurgia Psíquica

Afirmam que operam ao introduzir os dedos no interior do corpo do paciente, sem fazer qualquer incisão, e extraem pedaços de carne doente no meio de um abundante derramamento de sangue.
Nas décadas de 1960 e 70, estes curandeiros, maioritariamente filipinos, adquiriram grande fama.
O fenómeno. Diziam poder operar com as mãos nuas e extirpar os tecidos responsáveis pela doença, sem anestesia e sem deixar cicatrizes.
A fraude. Muitos caíram nas mãos dos farsantes depois de verem programas como o que foi transmitido, nos Estados Unidos, pela NBC. Face às críticas, os responsáveis da cadeia de televisão alegaram que nunca teriam imaginado que alguém levasse aquilo a sério. Todavia, o actor britânico Peter Sellers viajou até às Filipinas durante três anos para ser operado por cirurgiões psíquicos e morreu de um ataque cardíaco por ter desobedecido aos seus médicos. Outro que mordeu o anzol foi o actor norte-americano Andy Kaufman. Morreu em 1984, de cancro do pulmão, aos 35 anos. A fama dos vigaristas sofreu um golpe nos anos 80, depois de um dos mais conhecidos, Tony Agpaoa (condenado por fraude nos Estados Unidos), ter morrido de ataque de coração. Nenhum dos seus colegas conseguiu curá-lo.
A explicação. A técnica consiste em manter oculto na palma da mão um saquinho que contém sangue ou um corante e vísceras de animais. A bolsa é rasgada com a unha para a visão do sangue distrair a atenção dos presentes. A ilusão de introduzir a mão no ventre ou no peito do paciente é conseguida dobrando os dedos de forma a que os nós apertem com firmeza essa zona do corpo. O efeito visual é impressionante.

O Santo Sudário
A imagem que surge numa peça de linho de um homem aparentemente crucificado é identificada como Jesus de Nazaré.
O sudário que está guardado em Turim é um dos maiores e mais famosos ícones da Igreja Católica.
O fenómeno. Alega-se que se trata do pano que envolveu Cristo no sepulcro. A prova da tridimensionalidade da imagem, argumento utilizado para defender a sua autenticidade, foi publicada na Applied Optics em 1984. Um homem foi colocado diante de uma cópia do tecido para se medir a distância dos traços em treze pontos, a fim de estabelecer uma correlação entre as manchas do sudário e a forma do corpo.
A fraude. Não foi possível fazer coincidir a figura do rosto e a cabeça com o modelo humano. Alguns pontos distorciam o resultado, pelo que foram eliminados. Como a correlação não funcionava, modificaram os valores de forma a ficarem enquadrados. A olho nu, é possível observar anomalias na anatomia que surge na peça de linho: assimetria facial, um crânio deformado, pernas e tornozelos numa posição impossível. As costas, anormalmente planas, e os braços e dedos, demasiado compridos, são sintomáticos de uma doença do tecido conjuntivo conhecida por "síndroma de Marfan". Além disso, a cabeça sangra de forma irreal, em finos filamentos.
A explicação. Em 1978, o microanalista Walter McCrone estudou amostras do sudário e descobriu, nas presumíveis manchas de sangue, vestígios de pigmentos utilizados por artistas medievais. Por outro lado, o teste de carbono 14 fez os especialistas estimar que o lençol foi feito entre 1260 e 1390, o que coincide exactamente com a primeira aparição da relíquia.

Cinco Grandes Lendas Urbanas

"A única construção humana visível do espaço é a Grande Muralha da China." Nos arquivos da NASA que contêm imagens do nosso planeta captadas pelo vaivém espacial, é possível ver aeroportos, auto-estradas, pontes, barragens... Curiosamente, a Grande Muralha é praticamente invisível, pois foi construída com materiais da mesma cor do solo.
"Apenas utilizamos 10 por cento do cérebro." Este mito serve para demonstrar a existência de poderes mentais. Ninguém usa todo o cérebro em simultâneo, tal como não activamos todos os músculos ao mesmo tempo, mas os scanners revelam que recorremos a toda a massa cinzenta ao longo do dia.
"As unhas e os pêlos dos mortos continuam a crescer." Trata-se de uma ilusão óptica. Depois da morte, a pele retrai-se e deixa à vista a parte interna das unhas e dos pêlos. Para evitar esse efeito, as agências funerárias recorrem a cremes que aplicam nos cadáveres.
"Num lavabo do hemisfério sul, a água gira em sentido contrário." E habitualmente utilizado como exemplo da força de Coriolis, que surge quando o observador se encontra num sistema rotativo, como o da Terra. Todavia, essa força só é perceptível a grandes distâncias e durante longos períodos de tempo, pelo deve ser tomada em consideração quando se decide o rumo de voos intercontinentais, e não nos lavabos (nem, já agora, nos copos).
"Há um rosto esculpido em Marte." Desde que foi descoberto o rosto marciano nas fotos captadas, em 1976, pela missão Viking, muitos postularam a existência de civilizações desconhecidas no Planeta Vermelho. Os planetólogos defendem que se trata de um jogo de luz e sombras, aliada à nossa tendência para observar padrões, como acontece com as formas que vemos nas nuvens. As missões posteriores enviadas a Marte demonstraram que, se a montanha for fotografada com o Sol numa posição diferente no céu, a cara desaparece.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Fraudes do Paranormal 2

As Caras de Bélmez
Rostos espectrais apareceram no chão de uma cozinha de Bélmez de la Moraleda, na província espanhola de Jaen.
No número 5 da Rua Real de Bélmez (agora chama-se Rua Maria Gómez), produziu-se o acontecimento paranormal mais conhecido da Península.
O fenómeno. Em Novembro de 1971, Maria Gómez Câmara, de Bélmez, alegou que havia uma mancha em forma de rosto humano no chão da sua cozinha. Depois de a raspar, voltara a aparecer. Passados poucos dias, surgiram outras.
A fraude. Passados seis meses, o jornal El Ideal publicava os resultados de análises que demonstravam que as caras tinham sido desenhadas com nitrato e cloreto de prata. O presidente da Sociedade Espanhola de Parapsicologia, Ramos Perera, afirmou que os exames com infravermelhos à primeira das caras tinham revelado que continha pigmentos. Uma comissão formada pelo Governo espanhol chegou à conclusão de que se tratava de uma fraude e um relatório revelou que a cara conhecida por La Pelona correspondia à marca de uma sola de sapato de tamanho 39. Nos anos 80, com o boom das revistas dedicadas a fenómenos paranormais, surgiram novos rostos que foram identificados com Franco e com uma figura das colunas sociais, Isabel Preysler. Em 2003, Iker Jiménez e Luis Mariano Fernández escreviam no livro Túmulos Sem Nome que os rostos pertenciam a familiares de Maria Gómez que tinham morrido durante a Guerra Civil espanhola. Para obter uma certa semelhança, só tiveram de manipular as imagens. Porém, todas as análises, como as do Instituto de Cerâmica e do Vidro, que revelou a presença de zinco, chumbo e crómio, usados no fabrico de tintas, confirmaram a fraude.
A explicação. Foi tudo uma vigarice concebida para ganhar dinheiro; por exemplo, no auge turístico, as fotos dos rostos só podiam ser adquiridas ao fotógrafo da povoação. Em 2004, após a morte de Maria Gómez, um grupo de adeptos da parapsicologia afirmou ter descoberto mais imagens na casa onde ela nascera. Na realidade, fo¬ram criadas através de um método muito prosaico: molha-se o chão e, antes de secar, procuram-se formas nas manchas de água e volta-se a cobrir os traços com água, azeite e vinagre.
Segundo descobriu o jornalista Javier Cavanilles, a autarquia de Bélmez de la Moraleda estava interessada em comprar a casa onde tinham aparecido os rostos para criar um Centro de Interpretação, mas o preço pedido pelos familiares era proibitivo: 600 mil euros, quando valia, na realidade, apenas 84 mil. A história foi desmontada por Cavanilles e Mánez no livro As Caras de Bélmez: um mistério "ridículo, divertido, curioso e tacanho", afirma Cavanilles; "uma típica patranha infantil", acrescenta Máhez.

O Triangulo das Bermudas

Barcos e aviões desaparecem sem motivo numa área formada pelas Bermudas, a Florida e Porto Rico.
Em 1974, Charles Berlitz escreveu no livro O Mistério do Triângulo das Bermudas que centenas de navios se tinham perdido nessa zona do Atlântico sem deixar rasto.
O fenómeno. Um dos mais falados foi o desaparecimento do Voo 19, que tinha descolado em 1945 com cinco torpedeiros que, pouco depois, efectuavam uma transmissão aflitiva: "Perdemos o rumo." Em 1963, só foram recuperados dois salva-vidas do cargueiro Sulphur Queen.
A fraude. Segundo Larry Kusche, que publicou, em 1974, a informação que reu¬nira sobre os desaparecimentos no livro O Mistério do Triângulo das Bermudas Resolvido, tudo começou "com uma investigação descuidada, elaborada por autores que se serviram de erros, raciocínios incorrectos e sen-sacionalismo".
A explicação. O chefe de esquadrilha do Voo 19 tinha a bússola avariada, voava sem relógio e os outros aviões não tinham instrumentos operacionais. Com o mar alvoroçado, não puderam amarar e despenharam-se quando ficaram sem combustível. No caso do Sulphur Queen, navegava entre vagas com dezenas de metros de altura e ventos ciclónicos. Há desaparecimentos inventados, como o do barco norueguês Stavenger, em 1931. Em 1977, chegou mesmo a dizer-se que fora avistada uma pirâmide com 143 metros submersa no Triângulo da Atlântida. "Condições meteorológicas adversas e o carácter imprevisível do ser humano conseguem ultrapassar as narrativas mais ambiciosas de ficção científica", dizia, em 1974, um porta-voz da Guarda Costeira norte-americana, cujas lanchas passam mais tempo do que quaisquer outros barcos no triângulo maldito. Porém, já sabe: nunca deixe que a verdade estrague uma boa história.

O Sangue de São Genaro
No primeiro sábado de Maio e a 19 de Setembro, o sangue seco de São Genaro, padroeiro de Nápoles, liquefaz-se milagrosamente.
Nessas datas, uma procissão leva uma ampola com o suposto sangue do santo que, segundo a hagiografia católica, foi um bispo decapitado pelo imperador Diocleciano (284-305).
O fenómeno. O milagre produz-se há 600 anos e os napolitanos estão convencidos de que os aguarda uma grande catástrofe se não se verificar. Isso teria acontecido em diversas ocasiões, como em 1527, quando uma praga assolou a cidade, e com o terramoto de 1980, no qual 3000 pessoas perderam a vida.
A fraude. Em 1799, quando o Exército francês entrou em Nápoles, o clero profetizou que o milagre não aconteceria. O general francês Jean-Étienne Championnet ordenou ao seu ajudante: "Diga ao sacerdote que, se o sangue não ficar liquefeito, mando bombardear Nápoles." O milagre não tardou a produzir-se.
A liquefacção não se produz apenas nos dois dias da procissão: acontece mais de doze vezes por ano. A Igreja não permite que se retire uma amostra da substância. Foi apenas possível proceder a exames espectroscópicos através da ampola, os quais determinaram que contém sangue, embora possa haver mais qualquer coisa.
A explicação. Há alguns anos, a revista Nature publicava que o sangue de São Genaro é uma mistura isotrópica, que solidifica e liquefaz se for adequadamente agitada. Luigi Garlaschelli, professor de química orgânica da Universidade de Pavia, reproduziu o milagre com uma mistura de calcário, cloreto de ferro hidratado e água salgada. O mágico norte-americano Joe Nickell fez o mesmo com óleo, cera e sangue-de-dragão, uma resina vermelha elaborada com diferentes vegetais. O mesmo milagre ocorre em Espanha, no dia 26 de Julho de cada ano, com o sangue de São Pantaleão conservado no altar-mor do Real Mosteiro da Encarnação de Madrid, juntamente com um osso do santo. Também não se sabe se a ampola contém apenas sangue. Porém, há um pormenor curioso: foi doado ao mosteiro pelo vice-rei de Nápoles.

A Maldição de Tutankamon
Os arqueólogos que intervieram na descoberta do túmulo do faraó egípcio morreram em circunstâncias misteriosas.
Quando um membro da equipa de escavações, Lord Carnarvon, morreu passado poucos meses da abertura do túmulo, correu o rumor de que a fatalidade se devia a uma maldição.
O fenómeno. Um jornal publicou hieróglifos que estariam presumivelmente à entrada do local: "Quem entrar neste túmulo sagrado será em breve visitado pelas asas da morte". Em menos de um ano, faleceram o meio-irmão de Carnarvon, a sua enfermeira, um médico que fez uma radiografia da múmia e um milionário que estivera no local. Até o canário de Howard Cárter, responsável pela descoberta do túmulo, foi devorado por uma cobra no dia em que ele ia ser aberto.
A fraude. A suposta inscrição nunca existiu. No total, morreram seis pessoas das 26 que estiveram directamente envolvidas nas escavações. A maldição parece ter sido muito selectiva: apesar de ter sido oficialmente aberto no dia 29 de Novembro de 1922, Cárter e Carnarvon já lá tinham entrado antes, secretamente. A rainha de Inglaterra também escapou da maldição, embora tivesse visitado o túmulo em Fevereiro de 1923. O mais incompreensível é que se salvou o responsável por tudo, Howard Cárter.
A explicação. De que morreu Carnarvon? Alguns sugerem que terá sido uma doença pulmonar, a histoplasmose, causada pelo fungo Aspergillus niger. O epidemiologista De Miller, da Universidade do Hawai, é de opinião que teria sido uma septicemia provocada por um corte mal sarado no rosto. Em 2002, Mark R. Nelson, do Departamento de Epidemiologia e Medicina Preventiva da Universidade de Monash, na Austrália, publicou no British Medicai Journal um estudo sobre 44 indivíduos ocidentais que estavam no Egipto nas referidas datas, incluindo 25 que tinham enfrentado os perigos do túmulo. A conclusão não podia ser mais linear: as pessoas expostas à suposta maldição tinham morrido, em média, aos 70 anos, face aos 75 anos daqueles que não se tinham exposto. Isto é, praticamente todos chegaram a velhos, com ou sem uma visita ao faraó.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Fraudes do Paranormal

Parte do artigo publicado na edição nº 129 da revista “Super Interessante”:

Todos estes mitos tiveram uma evolução semelhante. Após um início relativamente discreto do suposto fenómeno, produz-se uma explosão informativa. Permanece na moda durante anos e enche páginas de jornais e programas de TV. Ao fim de certo tempo, o interesse começa a desaparecer, e hoje só muito raramente surge uma notícia sobre esses casos. A escolha deste decálogo exemplar obedece a vários motivos: fazem todos parte do nosso imaginário cultural, surgem nas conversas sobre fenómenos paranormais e, o que é mais importante, ainda há quem defenda a veracidade destas histórias e dedique tempo e esforço à procura de provas que as corroborem. Os bons mitos nunca morrem, porque não queremos que se extingam. Queremos acreditar.
M.A.S.

O Caso Roswell

Em Julho de 1947, uma nave extraterrestre (e a sua tripulação) ter-se-ia despenhado no deserto do Novo México, perto de Roswell. Os ufólogos alegaram que o Governo norte-americano tinha silenciado o caso.
O ano de 1995 ficará na História pelo delírio mediático desencadeado pelo caso Roswell, verdadeira insígnia dos que defendem que a Terra é visitada por seres de outros planetas.
O fenómeno. Em 1994, um senador do Estado do Novo México, Steven Schiff, solicitou um inquérito oficial sobre a estranha nave que teria aparecido, em 1947, em Roswell. Quem se encarregou disso foi o Tribunal de Contas (GAO), o braço de investigação do Congresso norte-americano, que tem acesso a toda a documentação oficial, qualquer que seja o grau de classificação. Em meados de 1995, o GAO afirmou não ter encontrado qualquer documento que fizesse referência a uma nave naquela povoação. Caso resolvido.
Todavia, os ufólogos asseguraram que os arquivos tinham sido eliminados. Agarraram-se a uma frase do relatório do GAO que dizia: "Muitos arquivos organizativos da Força Aérea que cobriam esse período foram destruídos, sem que haja indicação de qualquer autoridade que assim o tivesse determinado." A que período se refere e quais eram os documentos? Os que continham informações sobre financiamentos e assuntos administrativos, entre Março de 1945 e Dezembro de 1949. Nesse caso, segundo os ufólogos, foi precisamente em Dezembro de 1949 que deixou de haver relatórios sobre a nave.
A fraude. Dois anos antes, em 1993, surgira o célebre filme sobre a autópsia de um ET. Tudo começou quando o produtor televisivo Ray Santilli viajou até aos Estados Unidos para obter material sobre Elvis Presley. Durante a viagem, conheceu Jack Barnett, um antigo operador de câmara da Força Aérea norte-americana. O reformado contou-lhe que tinha 92 minutos de uma filmagem que o Governo daquele país ocultara durante 50 anos. As imagens mostravam o exame médico feito a um tripulante da nave alienígena numa tenda de campanha, as autópsias dos extraterrestres na base aérea de Fort Worth e a visita do presidente Truman ao local onde tinham sido guardados os destroços do acidente. Foi um negócio lucrativo: dependendo das fontes, Barnett recebeu 100 ou 200 mil dólares pelo filme, e uma estação israelita ofereceu a Santilli vários milhões pelos direitos, mas o produtor preferiu vendê-los país a país. Nos Estados Unidos, a Fox pagou 250 mil dólares, pelo que se tornou o filme fraudulento mais rentável da História.
Segundo o operador de câmara, Jack Barnett, quando os militares chegaram ao local, "os monstros estavam a chorar. Protegiam-se com alguns objectos, mas desferimos uma forte pancada na cabeça de um com a culatra de uma espingarda. Três das criaturas foram arrastadas para fora da nave e atadas com cordas e fita adesiva. A última já estava morta." O mais estranho é o facto de os extraterrestres não terem enviado uma operação punitiva para nos apagar do mapa, em jeito de vingança.
A explicação. Uma das coisas que mais assustavam o Governo norte-americano na década de 1940 era que os russos conseguissem produzir uma bomba atómica. Por isso, em 1945, lançaram diversos programas para detectar explosões. Um destes era o Projecto Mogul: um sensor de elevada precisão colocado num balão a grande altitude para detectar as ondas de choque produzidas pelas explosões. Um desses balões, que fazia parte do Voo 4, caiu em Julho de 1947, perto de Roswell. O aspecto irónico da história é que houve, efectivamente, um encobrimento: disfarçou-se de balão meteorológico aquilo que era, na realidade, um detector de explosões atómicas.

Os Círculos nas Searas
Na década de 1980, começaram a surgir estranhos desenhos geométricos nos campos ingleses. Seriam mensagens de alguma inteligência interdimensional?
Nesta história, há duas partes: os brincalhões que desenharam os círculos e aqueles que ainda insistem em acreditar na sua origem misteriosa.
O fenómeno. No Verão de 1980, foi observado um círculo nas planícies de Salisbury. Um jornalista do Wiltshire Times sugeriu que era demasiado perfeito para ter sido causado pela chuva, o vento ou um vendaval levantado pelos helicópteros que percorriam a zona. Seria uma marca deixada por naves extraterrestres?
A fraude. 0 interesse dos media fez multiplicar o aparecimento de círculos por todos os campos de cereais ingleses, sobretudo perto de lugares considerados mágicos: os megalitos de Stonehenge e Avebury ou a colina de Silbury. O fenómeno começou a adquirir complexidade e chegaram mesmo a aparecer sofisticadas formas fractais nos campos.
A explicação. 0 engenheiro Colin Andrews, para quem as figuras seriam produto de uma interacção entre a consciência humana e o meio ambiente, afirmou, em 1999, que a CIA quisera recrutá-lo. Segundo Andrews, a proposta consistia em fornecer-lhe apoio nas investigações e fazê-lo aparecer nos media mas, passados alguns anos, deveria dar uma conferência de imprensa e dizer que os círculos constituíam uma fraude. A realidade, porém, era muito menos emocionante, pois tudo não passou de uma gigantesca brincadeira. Tudo começou quando, numa tarde de Verão, Doug Bower e Dave Chorley, dois reformados com vontade de se divertir, decidiram desenhar marcas circulares numa seara perto de Cheesefoot Head, no Sul de Inglaterra. Alcançaram notáveis níveis de perícia. Os proprietários das quintas onde apareciam começaram mesmo a cobrar bilhetes de entrada às pessoas que queriam admirá-los, como se fossem museus.

O Monstro de Loch Ness
São muitos os que acreditam que um ser antediluviano vive placidamente nas negras águas deste lago escocês, oculto do olhar de todos.
Nessiteras rhombopteryx. É assim que é designado pelos seus admiradores, que asseguram tratar-se de um plessiossauro.
O fenómeno. Estreou-se no papel couché dos mistérios em 1933, quando um leitor anónimo do jornal Inverness Courier, que veio a apurar-se ser um funcionário público da região, relatou que o casal MacKay tinha visto na superfície do lago algo que só poderia ser provocado por uma criatura enorme.
A fraude. Esse ano e o que se seguiu foram frutíferos em aparições do monstro, conhecido por Nessie, o qual, talvez cansado dos paparazzi, viria a desaparecer até 1951. A sua chegada a Hollywood ocorreu em 1960, quando o engenheiro aeronáutico Tim Dinsdale filmou uma espécie de corcova que se movimentava na foz do rio Foyers. Nessie não deve ter gostado da experiência e voltou a desaparecer durante anos. Dinsdale afirmou que a penúria de resultados se devia a uma presença demoníaca: podia sentir vibrações satânicas no lago.
A explicação. Em 1987, foi levada a cabo uma exaustiva operação de busca que contou com um orçamento de 1,2 milhões de euros. Duas dezenas de lanchas equipadas com sonar esquadrinharam durante três dias o lago escocês, a maior massa de água doce do Reino Unido, com 37 quilómetros de comprimento e 1,68 km de largura, em média. A operação Deepscan terminou, como todas as outras que ali se efectuaram, em águas de bacalhau. Em 2003, a BBC decidiu pôr ponto final no assunto, depois de 60 feixes de sonar terem percorrido com precisão milimétrica todo o lago, de modo que nenhum monstro se pudesse esconder sob uma pedra. A única coisa detectada foi uma bóia amarrada a muitos metros de profundidade sob a superfície. Nessie, como todos os mistérios paranormais, é um verdadeiro negócio turístico, embora o interesse tenha diminuído nos últimos anos: enquanto rendeu, em 1993, 18 milhões de libras, apenas gerou seis milhões em 2007. O monstro também reduziu o número de aparições: de dez a vinte, há uma década, para apenas três nos últimos anos.