Há algumas pessoas que vêem as coisas de maneira diferente. Quando a maioria decide seguir um caminho, elas decidem escolher outro. Porquê? Talvez porque elas sejam inteligentes e criativas e nós sejamos desajeitados. Mas... quem é inteligente? E porque é que está tão na moda medir a inteligência? E porque é que a estamos a medir com métodos totalmente distintos dos que eram utilizados há apenas alguns anos?
A criatividade, segundo os especialistas, parece estar relacionada com uma atitude que se tem perante a vida: é o impulso de criar e de gerar ideias. E uma pessoa criativa é um indivíduo que consciente ou inconscientemente escolhe o caminho de criar.
Temos investido muito tempo e dinheiro para medir a inteligência das pessoas. Os famosos testes de Q.I., com os quais se avaliavam os quocientes intelectuais, foram utilizados e inclusivamente manipulados de mil maneiras. Robert Sternberg realizou experiências de medição intelectual em crianças cujas idades estavam compreendidas entre os 8 e os 9 anos e entre a 14 e os 18 anos. Segundo revelaram esses estudos, os resultados são muito melhores quando se usa a inteligência criativa do que quando se aplica o conceito básico que passa pelo estudo do pensamento lógico. “Quando medimos a inteligência, pensamos que é muito importante não medir apenas a inteligência tradicional, a inteligência académica. O quociente intelectual tem alguma importância na escola, mas é menos importante na vida e no trabalho. Portanto, nós medimos a inteligência analítica ou académica, mas também a inteligência criativa e a inteligência prática: o senso comum.” As suas investigações demonstraram que basicamente não há relação entre a inteligência académica e a inteligência prática. Pode-se ter muitíssimo senso comum, mas índices muito baixos nos testes convencionais da inteligência. Inclusive, pode-se ter um quociente intelectual extremamente alto, mas uma ausência assombrosa de senso comum.
Robert Sternberg fala também de “inteligência tácita”: é a capacidade para se adaptar a um meio sobre o qual não se sabe nada e do qual nem sequer se tinha ouvido falar. E acontece que pessoas com um quociente intelectual muito elevado - um quociente académico muito elevado - não têm esta “inteligência tácita” para se adaptar a um meio desconhecido. “O mais importante na vida, creio eu, não é ter experiências, mas sim aprender com as experiências”, dizia-nos o professor Sternberg. Toda gente tem experiências, mas as investigações demonstram que as pessoas que adquirem o conhecimento tácito, o conhecimen¬to de como lidar com as suas vidas, como ganhar mais dinheiro, como ser mais apreciado, como fazer o trabalho melhor, são pessoas que aproveitam as suas experiências. De novo: não se trata de ter a experiência, mas sim de aprender com ela. “Aquilo que digo aos meus estudantes é que não me incomoda que cometam um erro ou um equívoco: toda a gente se equivoca, e isso é bom, porque se aprende com os erros. O que me incomoda é que se repita o mesmo erro muitas vezes.”
O professor Sternberg considera que a criatividade pode ser ensinada. Na sua opinião, a criatividade é uma atitude perante a vida: é a atitude de criar, de gerar ideias, e a pessoa criativa é uma pessoa que assume riscos... O indivíduo criativo não pensa que precisa de ter a certeza em todos os momentos. Reconhece a necessidade de enfrentar os obstáculos. Em conclusão: “Se uma pessoa é criativa, a pergunta não é se vai haver obstáculos, porque de certeza os haverá. A pergunta que uma pessoa criativa precisa de fazer a si mesmo é: "Tenho a coragem para enfrentar e superar os obstáculos?"“
A mentalidade tradicional não apresenta o indivíduo criativo como um ser que “controla” a sua criatividade. Não raro, é apresentado como uma caricatura, um indivíduo a quem se acende uma lâmpada... sem nenhum controlo aparente! E, curiosamente, falamos também de “iluminação”, de “ver a luz”... E o século XVIII, o século da razão e do Iluminismo, é também o Século das Luzes. Será que existe uma base fisiológica na criatividade? Haverá uma parte do cérebro que se “ilumina” ou que se activa quando uma pessoa tem uma ideia criativa?
As investigações mostram que há muitas partes do cérebro envolvidas no processo criativo e que a acção está distribuída por diferentes áreas. “Mas o importante é perceber que a biologia não afecta apenas o comportamento e a aprendizagem, afecta o cérebro, afecta a biologia: vai em ambas as direcções.” Ou seja, quando se aprende algo, quando um indivíduo se desenvolve cognitivamente, o seu cérebro também muda. Em suma, a biologia não significa predestinação: pode-se mudar a vida e o cérebro através da aprendizagem e das atitudes perante a vida.
A criatividade é entendida como operações fisiológicas. Descansando debaixo de uma árvore, Newton deu com a explicação para a força da gravidade quando viu cair uma maçã à sua frente. Uma bela poesia, uma frase gloriosa ou uma magnífica melodia surgem frequentemente em momentos de descontracção, depois de sestas ou de estados de sonolência. Porquê? O nosso cérebro está povoado de células nervosas ou neurónios, unidades básicas da estrutura cerebral. Estas células têm uma configuração muito particular que permite a transmissão dos impulsos nervosos; os neurónios agrupam-se nos chamados “nodos” e desenvolvem uma actividade específica; assim se estabelece uma imensa rede de circuitos eléctricos. No cérebro existem sistemas de activação geral que regulam o grau de activação eléctrica dos neurónios e nodos; assim, por exemplo, uns quantos nodos, activados intensamente, caracterizam o estado de concentração, ao passo que uma grande quantidade de nodos activados mas com uma baixa intensidade descreveriam os momentos de atenção difusa. Estas operações facilitam e amplificam a capacidade de associação e dão origem à inspiração.
Sem dúvida, nas pessoas consideradas criativas existem aptidões mais desenvolvidas, mas a concepção da ideia criativa nasce normalmente de uma ampla base de conhecimentos que “empapa” os nodos e os circuitos cerebrais.
Embora as capacidades relacionadas com a intuição, a imaginação e a flexibilidade se atribuam ao hemisfério direito do cérebro, pensa-se que ambos os hemisférios estão constantemente a interagir e que não há zonas específicas onde a criatividade possa ser situada. No entanto, alguns estudos realizados com pessoas ligadas a actividades musicais sugeriram que as aptidões musicais, tais como o ouvido absoluto ou a capacidade para reconhecer diferentes notas musicais, implicam uma zona do córtex na área de Wernicke, que parece ser mais ampla no hemisfério esquerdo, sobretudo no caso dos músicos profissionais. Esta área de Wernicke está relacionada com a compreensão da linguagem, o que sugere que a percepção da linguagem e a percepção dos tons musicais são actividades muito próximas.
Alguns casos concretos tornam mais confusa a nossa análise do cérebro criativo. Por exemplo, o compositor Maurice Ravel sofreu uma lesão irreversível no hemisfério esquerdo, provavelmente na área de Wernicke, que o incapacitava quando tinha de compor e de ler música, mas conseguia compreender e criticar perfeitamente as peças que escutava. Viveu quatro longos anos com o tormento de desfrutar da música sem a poder expressar.
A criatividade, segundo os especialistas, parece estar relacionada com uma atitude que se tem perante a vida: é o impulso de criar e de gerar ideias. E uma pessoa criativa é um indivíduo que consciente ou inconscientemente escolhe o caminho de criar.
Temos investido muito tempo e dinheiro para medir a inteligência das pessoas. Os famosos testes de Q.I., com os quais se avaliavam os quocientes intelectuais, foram utilizados e inclusivamente manipulados de mil maneiras. Robert Sternberg realizou experiências de medição intelectual em crianças cujas idades estavam compreendidas entre os 8 e os 9 anos e entre a 14 e os 18 anos. Segundo revelaram esses estudos, os resultados são muito melhores quando se usa a inteligência criativa do que quando se aplica o conceito básico que passa pelo estudo do pensamento lógico. “Quando medimos a inteligência, pensamos que é muito importante não medir apenas a inteligência tradicional, a inteligência académica. O quociente intelectual tem alguma importância na escola, mas é menos importante na vida e no trabalho. Portanto, nós medimos a inteligência analítica ou académica, mas também a inteligência criativa e a inteligência prática: o senso comum.” As suas investigações demonstraram que basicamente não há relação entre a inteligência académica e a inteligência prática. Pode-se ter muitíssimo senso comum, mas índices muito baixos nos testes convencionais da inteligência. Inclusive, pode-se ter um quociente intelectual extremamente alto, mas uma ausência assombrosa de senso comum.
Robert Sternberg fala também de “inteligência tácita”: é a capacidade para se adaptar a um meio sobre o qual não se sabe nada e do qual nem sequer se tinha ouvido falar. E acontece que pessoas com um quociente intelectual muito elevado - um quociente académico muito elevado - não têm esta “inteligência tácita” para se adaptar a um meio desconhecido. “O mais importante na vida, creio eu, não é ter experiências, mas sim aprender com as experiências”, dizia-nos o professor Sternberg. Toda gente tem experiências, mas as investigações demonstram que as pessoas que adquirem o conhecimento tácito, o conhecimen¬to de como lidar com as suas vidas, como ganhar mais dinheiro, como ser mais apreciado, como fazer o trabalho melhor, são pessoas que aproveitam as suas experiências. De novo: não se trata de ter a experiência, mas sim de aprender com ela. “Aquilo que digo aos meus estudantes é que não me incomoda que cometam um erro ou um equívoco: toda a gente se equivoca, e isso é bom, porque se aprende com os erros. O que me incomoda é que se repita o mesmo erro muitas vezes.”
O professor Sternberg considera que a criatividade pode ser ensinada. Na sua opinião, a criatividade é uma atitude perante a vida: é a atitude de criar, de gerar ideias, e a pessoa criativa é uma pessoa que assume riscos... O indivíduo criativo não pensa que precisa de ter a certeza em todos os momentos. Reconhece a necessidade de enfrentar os obstáculos. Em conclusão: “Se uma pessoa é criativa, a pergunta não é se vai haver obstáculos, porque de certeza os haverá. A pergunta que uma pessoa criativa precisa de fazer a si mesmo é: "Tenho a coragem para enfrentar e superar os obstáculos?"“
A mentalidade tradicional não apresenta o indivíduo criativo como um ser que “controla” a sua criatividade. Não raro, é apresentado como uma caricatura, um indivíduo a quem se acende uma lâmpada... sem nenhum controlo aparente! E, curiosamente, falamos também de “iluminação”, de “ver a luz”... E o século XVIII, o século da razão e do Iluminismo, é também o Século das Luzes. Será que existe uma base fisiológica na criatividade? Haverá uma parte do cérebro que se “ilumina” ou que se activa quando uma pessoa tem uma ideia criativa?
As investigações mostram que há muitas partes do cérebro envolvidas no processo criativo e que a acção está distribuída por diferentes áreas. “Mas o importante é perceber que a biologia não afecta apenas o comportamento e a aprendizagem, afecta o cérebro, afecta a biologia: vai em ambas as direcções.” Ou seja, quando se aprende algo, quando um indivíduo se desenvolve cognitivamente, o seu cérebro também muda. Em suma, a biologia não significa predestinação: pode-se mudar a vida e o cérebro através da aprendizagem e das atitudes perante a vida.
A criatividade é entendida como operações fisiológicas. Descansando debaixo de uma árvore, Newton deu com a explicação para a força da gravidade quando viu cair uma maçã à sua frente. Uma bela poesia, uma frase gloriosa ou uma magnífica melodia surgem frequentemente em momentos de descontracção, depois de sestas ou de estados de sonolência. Porquê? O nosso cérebro está povoado de células nervosas ou neurónios, unidades básicas da estrutura cerebral. Estas células têm uma configuração muito particular que permite a transmissão dos impulsos nervosos; os neurónios agrupam-se nos chamados “nodos” e desenvolvem uma actividade específica; assim se estabelece uma imensa rede de circuitos eléctricos. No cérebro existem sistemas de activação geral que regulam o grau de activação eléctrica dos neurónios e nodos; assim, por exemplo, uns quantos nodos, activados intensamente, caracterizam o estado de concentração, ao passo que uma grande quantidade de nodos activados mas com uma baixa intensidade descreveriam os momentos de atenção difusa. Estas operações facilitam e amplificam a capacidade de associação e dão origem à inspiração.
Sem dúvida, nas pessoas consideradas criativas existem aptidões mais desenvolvidas, mas a concepção da ideia criativa nasce normalmente de uma ampla base de conhecimentos que “empapa” os nodos e os circuitos cerebrais.
Embora as capacidades relacionadas com a intuição, a imaginação e a flexibilidade se atribuam ao hemisfério direito do cérebro, pensa-se que ambos os hemisférios estão constantemente a interagir e que não há zonas específicas onde a criatividade possa ser situada. No entanto, alguns estudos realizados com pessoas ligadas a actividades musicais sugeriram que as aptidões musicais, tais como o ouvido absoluto ou a capacidade para reconhecer diferentes notas musicais, implicam uma zona do córtex na área de Wernicke, que parece ser mais ampla no hemisfério esquerdo, sobretudo no caso dos músicos profissionais. Esta área de Wernicke está relacionada com a compreensão da linguagem, o que sugere que a percepção da linguagem e a percepção dos tons musicais são actividades muito próximas.
Alguns casos concretos tornam mais confusa a nossa análise do cérebro criativo. Por exemplo, o compositor Maurice Ravel sofreu uma lesão irreversível no hemisfério esquerdo, provavelmente na área de Wernicke, que o incapacitava quando tinha de compor e de ler música, mas conseguia compreender e criticar perfeitamente as peças que escutava. Viveu quatro longos anos com o tormento de desfrutar da música sem a poder expressar.
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